RESENHA CRÍTICA
TRANSFORMAÇÕES DA TECNOLOGIA NA CULTURA E NO TRABALHO
Marcos Luiz Mucheroni
Mucheroni, em sua participação no livro Educação e Tecnologias: reflexão, inovação e práticas, aborda a trajetória das transformações envolvendo o trabalho e a cultura na vida humana. Um destaque inicial é dado à união dos estudos sociológicos a uma visão crítica da linguagem e da comunicação para a compreensão deste percurso, enfatizando os pensamentos de McLuhan e de pensadores da Escola de Frankfurt, particularmente, Habermas.
Fica evidenciado que o “meio” ao qual alude McLuhan é o grande transformador das realidades humanas, são as tecnologias criadas pelo homem para modificar as condições naturais em seu favor ou para representar este mesmo mundo. Nossos antepassados pré-históricos descobriram através de muita tentativa e erro as ferramentas que os fariam sobreviver, assim como desenvolveram a arte para simbolizar seu cotidiano.
O trabalho e a cultura, aliados aos meios que os permitiam prosperar, fizeram surgir as primeiras sociedades complexas, com suas divisões sociais e costumes. Com o desenvolvimento das civilizações orientais, como as da região mesopotâmica e do Egito, novas relações sociais surgiram. A propriedade privada delegou aos proprietários o comando, assim como o trabalho braçal ficou sob encargo dos não proprietários de terra.
Alguns daqueles não ocupados no trabalho manual passaram à observação dos processos naturais, ocupando seu tempo livre com uma forma diferente de trabalho, intelectual. Com o tempo, aprofundou-se essa diferença entre as classes sociais, e a distinção de que o trabalho manual era ônus das camadas mais baixas, dos camponeses e artesãos.
A entrada no período medieval europeu é acompanhada por um elemento cultural influente, o cristianismo. Valores ligados ao mundo material foram associados ao indesejável, distante da realidade sacra que se realiza em Deus. Logo, o trabalho manual era tido como algo sujo pelas camadas mais poderosas, nobreza e clero, mais ligados aos esportes da guerra, às orações, estudos e ao ócio.
É no chamado período moderno que surgem grandes transformações nos conhecimentos e técnicas, algumas máquinas surgem ai para auxiliar o trabalho. A burguesia, classe comercial, e o capitalismo têm suas sementes ai germinando: o trabalho, até então majoritariamente rural, passa aos centros urbanos.
A industrialização crescente a partir do século XVIII vai criar uma nova estrutura social e cultural, as inovações tecnológicas e as novas fontes de energia modificam o timing da vida. Por fim, este crescendo tecnológico encontra o seu grande divisor em fins do século XX, com a expansão da computação e o posterior boom da internet.
A partir daí, novos conceitos sobre sociedade e trabalho se moldam, as relações humanas enfatizam os processos comunicativos. Termos como teletrabalho e cibertrabalho surgem, distanciando-se da tradicional concepção de trabalho associado ao manual. O desenvolvimento do ciberespaço proporciona a manutenção de uma vida com relações afetivas e trabalho dentro desse espaço.